Saúde do ES debate gargalos no tratamento do câncer
Comissão ouviu demandas dos profissionais que prestam atendimento aos pacientes oncológicos.
No Espírito Santo, são esperados 40 mil novos casos de câncer até 2025, segundo dados estimativos do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Os principais desafios existentes no tratamento oncológico público no Estado pautaram a reunião desta terça-feira (21) da Comissão de Saúde.
O encontro reuniu diversos profissionais de oncologia, que falaram dos gargalos no cenário atual para enfrentamento ao câncer. O tratamento dos pacientes depende de intervenções realizadas por equipes multidisciplinares com nutricionistas, farmacêuticos, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, dentistas, assistentes sociais e psicólogos. O Espírito Santo conta com oito hospitais habilitados para tratamento oncológico.
O médico Carlos Rebello falou da preocupação com o crescente número de casos de câncer. A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê mais de 35 milhões de casos globalmente até 2030. Rebello é radio-oncologista do Hospital Santa Rita de Cássia, maior complexo oncológico do estado. O profissional alertou que o câncer foi a segunda principal causa de mortes no Estado em 2022, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares. “Nós estamos falando de uma doença que é problema de saúde pública”, pontuou.
Rebello considerou a defasagem de custeio no sistema de saúde como um dos principais gargalos. Segundo ele, os valores pagos pelo SUS para custeio de radioterapia permanecem estagnados desde 2010, resultando em um déficit significativo para aquisição de equipamentos e oferta de tratamentos.
Nutricionistas, farmacêuticos e médicos de outras especialidades também pontuaram as particularidades e demandas de suas áreas no tratamento de pacientes oncológicos.
Prevenção e acompanhamento
O cirurgião do trato digestivo do Hospital Evangélico de Vila Velha Francisco Nolasco abordou a importância das unidades básicas de saúde na prevenção do câncer, ressaltando a necessidade de instituir programas de prevenção de acordo com o perfil da população atendida. Ele também destacou a necessidade de garantir a eficiência do agendamento de exames complementares para um tratamento adequado e o impacto da demora na realização desses exames no prognóstico dos pacientes.
“O diagnóstico inicial é só o começo. Nós necessitamos de um estadiamento detalhado da doença, da disseminação e do perfil do paciente para poder ofertar a melhor terapêutica. Nós temos, eventualmente, um leque de terapia para poder escolher entre quimio, radioterapia, cirurgia. Mas, para isso, antes, é necessário realizar tomografias, endoscopia, colonoscopia, ecoendoscopia. E, infelizmente, o tempo de espera para esses exames é longo”, explicou Nolasco.
Determinantes sociais
A assistente social Tânia Bitti, chefe do Núcleo de Onco-hematologia do Hospital Infantil de Vitória, ressaltou a necessidade de oferecer melhores condições sociais, como saúde, educação, assistência social e moradia, como forma de evitar e de lidar com o câncer. Ela pontuou a influência dos determinantes sociais na saúde e destacou a necessidade do poder público trabalhar para melhorar essas condições ambientais e sociais.
“Não é só pensar quando a doença está instalada, mas é o que a gente pode fazer para minimizar isso. Isso requer pensar também nas determinantes sociais. A gente tem que oferecer melhores condições de saúde, de educação, de assistência social, de moradia, porque isso tudo tem a ver com câncer”, afirmou Tânia.
A importância do acesso de toda a população às garantias fundamentais também foi enfatizada pela assistente social da Associação Capixaba Contra o Câncer Infantil (Acacci). Luciene Sena reforçou a necessidade de assegurar os direitos básicos que estão garantidos na Constituição Federal, mas que não são oferecidos e acessados por todos. Ela também mencionou a dificuldade enfrentada por pacientes para acessar os serviços de saúde, incluindo até mesmo problemas com transporte público.
Judicialização
O promotor de Justiça Itamar Ramos participou do debate e falou da importância de investigar as causas das filas de espera no sistema de saúde, seja por questões de financiamento, falta de equipamentos ou medicamentos. O representante do Ministério Público Estadual ressaltou que muitas vezes, diante do desequilíbrio financeiro dos hospitais, a judicialização é vista como a única solução pelos pacientes. Itamar ainda enfatizou a necessidade de ajustes no financiamento, seja por meio de reajustes na tabela de pagamento do SUS pela União ou pelo fornecimento adequado de medicamentos e equipamentos. “É nesse sentido que a gente tem que atuar. Identificar e abordar essas causas é fundamental para encontrar soluções”, afirmou.
Articulação com o governo
No sentido de aprimorar o atendimento público a pacientes com câncer no Estado foram propostas algumas medidas pelos participantes da reunião, como alocação mais eficiente dos recursos disponíveis para combater a doença, conscientização da população, fortalecimento da atenção básica, investimentos em infraestrutura e tecnologias, entre outros pontos.
Ao reunir diversas especialidades e setores profissionais de oncologia, o presidente da Comissão de Saúde, deputado Dr. Bruno Resende (União), explicou o objetivo de integralizar e criar uma pauta única da área para otimizar as discussões junto à Secretaria de Estado de Saúde (Sesa). “O tratamento do câncer é multiprofissional, muitas especialidades, que engloba todos esses serviços para que a gente possa de fato oferecer uma saúde integral para o paciente. A partir daqui nós vamos provocar as próximas inserções na Secretaria de Estado para que a gente possa avançar com essa política de oferta ampla de serviços.”