ONG denuncia Rússia por publicar ‘catálogo’ de crianças ucranianas deportadas para adoção

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A informação sobre o “catálogo” russo de crianças ucranianas para adoção foi compartilhada por Mykola Kuleba, diretor da ONG Save Ukraine. Com capturas de tela como prova, ele denunciou a recente publicação, feita pelo Departamento de Educação das autoridades russas que ocupam a região de Luhansk, no leste da Ucrânia.

A lista contém 294 crianças ucranianas disponíveis para adoção. A base de dados gerida pela Rússia descreve os menores registrados como “órfãos e crianças abandonadas pela família”.

A ONG Save Ukraine confirma que algumas dessas crianças são órfãs, cujos pais foram mortos pelas forças russas de ocupação no leste da Ucrânia. Mas muitas delas foram arrancadas de suas famílias à força e deportadas para a Rússia, onde receberam documentos de identidade russos.

Tráfico infantil do século 21

No site russo, é possível ver os rostos das crianças e selecionar os candidatos à adoção por meio de filtros. A base de dados é organizada e categorizada por idade, sexo e traços físicos, como cor dos olhos e do cabelo. Até os traços de personalidade são indicados.

Algumas são descritas como “obedientes” ou “calmas”. Outras, como “educadas e respeitosas com os adultos”, ou ainda “disciplinadas”, “não conflituosas” e “confiáveis na execução de tarefas”.

Mykola Kuleba, cuja organização conseguiu repatriar 692 crianças ucranianas deportadas para a Rússia desde 2022, denuncia o que chama de tráfico infantil do século 21, “patrocinado pelo Estado”.

Os órfãos ucranianos são exibidos “como produtos em um mercado online”. O diretor da Save Ukraine alertou ainda para o fato de a plataforma expor as crianças a perigos como exploração sexual, tráfico de seres humanos, adoção ilegal e tráfico para colheita de órgãos.

Pré-requisito para negociações de paz

O catálogo reforça a acusação de crime de guerra por deportação e transferência ilegal de crianças ucranianas feita pelo Tribunal Penal Internacional desde março de 2023 contra Vladimir Putin e sua comissária para os direitos das crianças, Maria Lvova-Belova.

Ao menos 19.500 crianças ucranianas foram deportadas de zonas ocupadas pelo exército russo desde o início da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022. É provável que o número real seja muito maior. Estimativas do Laboratório de Investigação Humanitária de Yale apontam para 35.000.

Até agora, apenas cerca de 1.300 foram devolvidas às suas famílias. Cada retorno é mediado por um terceiro Estado, como o Catar, a África do Sul e o Vaticano.

O governo ucraniano tem exigido repetidamente o retorno de todas as crianças, até agora sem sucesso. Durante as negociações de paz em Istambul entre a Ucrânia e a Rússia, a delegação de Kiev entregou uma lista de menores deportados à força, reiterando seu compromisso de trazê-los de volta, como um dos requisitos fundamentais para um possível cessar-fogo e um acordo de paz duradouro.


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