O que falar de Acolhimento em uma sociedade atual que se caracteriza pela necessidade constante de desenvolver a escuta ativa e a empatia?
Ao nos desafiarmos à escrita deste tema, pensamos em como poderemos desenvolvê-lo numa
coluna que trata especialmente da Educação. Etimologicamente, ACOLHIMENTO veio do
Latim ACOLLIGERE, “levar em consideração, receber, acolher”, de AD, “a”, mais COLLIGERE,
“reunir, juntar”, este formado por COM, “junto”, mais LEGERE, “reunir, coletar, recolher”.
Para o psicólogo bielo-russo, Lev Vygotsky, grande influenciador da Educação, a aquisição dos
conhecimentos se dá pela interação com o meio. O que pressupõe que o aprendizado, para ter
efetividade, não pode ser dissociado do contexto histórico, social e cultural dos sujeitos
envolvidos. Nessa perspectiva, para aprender e construir conhecimentos o ser humano precisa
interagir com outros membros da sua espécie, com o meio e com a cultura. Portanto, é
essencial que, para o sucesso do processo de ensino-aprendizagem, as atividades de
acolhimento desenvolvidas possibilitem conhecer as experiências e vivências deste
emaranhado de realidades do cotidiano escolar.
Tendo por base a etimologia do termo e sua importância para a educação, acolher a
comunidade escolar se torna um grande desafio para gestores, estudantes, professores, família
e outros funcionários da educação, visto que a escola se trata de contexto complexo,
multifacetado, onde temos presentes realidades e vidas variadas. Para Base Nacional Comum
que norteia todo o Currículo da Educação, o acolhimento escolar deve ser compreendido como
uma força em simbiose, no sentido de atuar para a harmonia da instituição e enquanto agente
transformador da comunidade escolar como um todo.
Nesta complexidade, acolher necessita de um olhar diferenciado de todos que compõem a
escola. Criar espaços e momentos de acolhimento na unidade escolar auxilia estudantes, corpo
docente e equipe gestora a lidar com emoções e sentimentos de maneira a gerar conexões
entre os atores envolvidos no processo. Por isso, o Acolhimento no campo da educação é visto
como um vínculo, um laço que une escola, estudante e família, contribuindo para o
desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.
Mas, voltando à nossa questão inicial, provocamos novamente quanto ao desafio de lidar com
estudantes, famílias e profissionais que se situam na sociedade que precisa cada vez mais
desenvolver escuta ativa, empatia e colaboração. Por isso, ao pensar no acolhimento dos
sujeitos da comunidade escolar e do ser humano enquanto sociedade torna-se necessário
elencar alguns pilares essenciais.
O primeiro deles é a Escuta ativa, que implica numa escuta coletiva e individual isenta de
julgamentos. Para seres humanos que precisam viver em sociedade, a escola é uma
comunidade educativa, sendo fundamental mediar e agir com imparcialidade na tratativa dos
conflitos, dando voz às diferentes perspectivas de vida.
Outro pilar essencial é a Empatia. Desenvolver empatia não é se “colocar no lugar do outro”;
isso seria impossível, pois, cada um vivencia singularmente a sua história. Mas a empatia é a
pessoa ter a habilidade de entender o contexto de vida da outra pessoa, visando compreender
seus sentimentos e perspectivas, utilizando desta compreensão para orientar suas ações. À
empatia agrega-se o ato do cuidado, que implica numa atitude de solidariedade e de
desenvolvimento afetivo contínuo com o outro. Ambos indispensáveis para o estabelecimento
de relações saudáveis e bem conectadas no contexto escolar.
Não podemos deixar de mencionar a Equidade também como pilar essencial para o
Acolhimento. Isso significa estar atento ao outro, considerando as características específicas
de cada sujeito, respeitando suas necessidades e limitações. Requer o desenvolvimento de
uma postura empática e livre de preconceitos.
Por fim, mas não menos importante, a Coopetição. Você já ouviu falar neste termo? Ainda
novo na Educação, a coopetição traz a ideia sim de competição, afinal, numa sociedade
“meritocrática”, todos querem vivenciar as melhores experiências pessoais e profissionais.
Exemplificado com o contexto da educação, a competição pode ser a busca por melhores
salários, por maiores índices de aprendizagem, por vitórias em campeonatos, olimpíadas e
gincanas, dentre outras situações. Contudo, a coopetição alia a competição à cooperação,
favorecendo o crescimento e evolução de todos os envolvidos no processo. Por isso ela é tão
necessária ao acolhimento na educação, pois pressupõe o desenvolvimento do espírito coletivo
e de colaboração.
Voltando à Base Nacional Comum Curricular, nosso guia para o desenvolvimento de
competências e habilidades dos nossos estudantes, o público alvo da escola, as competências
socioemocionais aparecem em lugar de destaque para ser desenvolvida. Cabe considerar, a
este respeito, que é preciso investir não somente no desenvolvimento da inteligência cognitiva,
mas também e, especialmente, na inteligência emocional e social que compreende a habilidade
de educar as emoções, de forma a promover uma formação integral dos estudantes para
vencer os desafios da sociedade atual. Na realidade do mercado de trabalho e da sociedade
atual tem-se utilizado o seguinte termo: ”Contrata-se pelo currículo, demite-se pelo
comportamento”. Logo, a inteligência emocional é primordial ao desenvolvimento pleno e ao
sucesso de qualquer sujeito.
Cabe destacar que a construção de um ambiente acolhedor nas realidades escolares tende a
minimizar a indisciplina escolar e maus comportamentos. Quando o ser humano se sente
acolhido, ouvido e respeitado é exponencialmente mais facilitada uma atitude compreensiva,
colaborativa e respeitosa com todos os integrantes da comunidade educativa. Isso pode ser
replicado à sociedade de forma mais ampla. Diante desse cenário, o sucesso do processo
ensino-aprendizagem é uma consequência que favorecerá a todos os envolvidos, mas,
principalmente, os estudantes, que sairão ressignificados daquela vivência escolar acolhedora.
Além disso, o ambiente escolar que desenvolve atividades contínuas de acolhimento
potencializa o protagonismo, a criatividade, o pensamento crítico, a colaboração, a
comunicação e outras competências essenciais para a resolução de problemas e
enfrentamento de desafios do mundo contemporâneo.
E você, profissional da educação, tem desenvolvido atividades acolhedoras em sua realidade
escolar? Pense em como você, como ser humano e profissional, se sentiu ao ser acolhido(a)
em uma determinada situação. Agora, pense o contrário, em uma situação que você não foi
acolhido(a). Chamamos à ação, dizendo que é SUA a escolha da postura que irá adotar e do
que irá ofertar ao outro ser humano. E da nossa parte, agradecemos a oportunidade desta
reflexão, o Acolhimento que sempre tivemos nesta rede, nos preparando para os próximos
temas a serem escritos.