O filho do cabo
Em 1985, o comandante da Polícia Militar do Espírito Santo – PMES no ano de seu sesquicentenário era o coronel Wlamir Coelho da Silva, ainda hoje, para a nossa alegria, vivo e saudável com quase 90 anos.
Comandante experimentado e atuante em momentos históricos da Corporação, esteve presente no lançamento da pedra fundamental da primeira Unidade em todo o sul do Estado, o 3º BPM, em Alegre (ES). Ainda quando era major, em 1971, pôde ver a expansão e interiorização da Força Pública espírito-santense.
Wlamir foi ator privilegiado da redemocratização capixaba, tendo sido o 2º oficial superior da PMES, depois dos anos de comandos biônicos, a ocupar o cargo de comandante-geral, à época do governador Gérson Camata, eleito em 1982, antes, porém houvera sido presidente da União Estadual dos Estudantes, tempo em que se uniu ao movimento pela criação da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES.
Diante da galeria de prefeitos de Vitória, encontramos a fotografia do comandante Wlamir, posando garbosamente a farda da PM de Ortiz. Ele também, por duas vezes, deu a sua contribuição, mesmo que temporária, como “alcaide da Cidade Presépio”.
Poucos sabem, ou então não se lembram mais de que a “Canção do Soldado Capixaba”, composta nos idos de 1940, expressando a valentia dos militares capixabas, em defesa da integridade nacional, durante a revolução constitucionalista de 1932, só se tornou em Hino oficial da PMES quatro décadas depois, durante às comemorações do aniversário de seus 150 anos, prestigiado e marcante evento comandado por Wlamir.
Foi neste mesmo ano de 1985 que se inaugurou, em território nobre de nossa linda capital – Vitória -, o “Obelisco da PMES”, ainda hoje vistoso monumento aos feitos históricos da briosa capixaba.
Assim, ao tempo de Wlamir ocorreu a construção do “Jazigo da PMES”, inaugurado solenemente no cemitério de Maruípe, em perpétua memória de nossos soldados que tombaram em defesa do povo espírito-santense e brasileiro.
Nesse mesmo tempo, lançou-se o livro com a história da PMES, obra sem igual no universo corporativo, e ainda, era levada adiante a construção do Hospital da Polícia Militar, através da visionária garra do coronel médico, Otávio Carvalho Sobrinho.
Há tempos na PMES as tradições são preservadas e cultuadas. O amor à causa, o juramento à disciplina, à hierarquia e à honra são transcendentes entre nós.
Desse modo, o ex-governador Carlos Lindenberg, no livro de Sônia Maria Demoner, sobre os 150 anos da PMES, ao falar sobre o comandante Wlamir, assim se expressou: “rapaz inteligente, estudioso, direito e correto. Tenho certeza de que a PM está muito bem comandada”. (DEMONER, 1985)
Assim, seguimos em frente, buscando um conectivo que ligue o texto narrado ao título desta pequena história.
Foi o coronel Wlamir, durante visita ao Clube dos Oficiais, o primeiro comandante a perguntar-me: “você é o filho do cabo Lastênio Nascimento Costa? “. No que respondi: “sim, senhor”, quando então, aquele oficial de aspecto retilíneo retrucou: “aspirante, seja tão honrado e capaz como seu pai. Sinta-se orgulhoso em ser filho do cabo e honre o nome e o legado dele na Polícia Militar”, palavras essas que as eternizei.
Ah, quanto ao meu pai, ele continua firme, dirigindo o seu veículo e montando em seu cavalo, isto aos 91 anos, ainda cheio de vigor e desejo de viver.
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