Morre o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, aos 81 anos

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O renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado faleceu nesta sexta-feira, aos 81 anos, em Paris. A causa de sua morte ainda não foi divulgada até o final da tarde no horário francês. Ele deixa sua esposa, Lélia Wanick Salgado, com quem estava casado desde 1967, e seus filhos Rodrigo e Juliano.

Com um histórico de problemas de saúde crônicos associados à malária, que contraiu na década de 1990, Sebastião Salgado havia cancelado sua participação em um encontro com jornalistas em Reims, alegando questões de saúde. No entanto, ele estava previsto para comparecer a um vernissage de vitrais desenhados por seu filho Rodrigo neste sábado.

Um mês antes de sua morte, ele falou publicamente sobre os vitrais de Rodrigo, que possui síndrome de Down. Na ocasião, Salgado mencionou estar em um novo tratamento que o deixava mais energizado e expressou orgulho das obras do filho, destacando: “Minhas fotos talvez sobrevivam cem anos, mas os vitrais dele vão ficar por milhares de anos”.

Exposições e homenagens recentes à Sebastião Salgado

Atualmente, uma retrospectiva de sua obra está em exibição em Deauville, na costa norte da França. Durante a inauguração da exposição no dia 1º de março, Salgado se emocionou com a homenagem recebida e reafirmou sua identidade como fotógrafo, dizendo: “Algumas vezes as pessoas me dizem que sou um artista; eu digo que não, que sou um fotógrafo”.

Sebastião Salgado se destacou na cena fotográfica mundial no final dos anos 1980 com suas impressionantes imagens em preto e branco do garimpo de Serra Pelada, na Amazônia, onde 50 mil trabalhadores sonhavam em enriquecer. Suas fotografias retratavam a intensidade do trabalho naquele local como se fosse um verdadeiro formigueiro humano.

Sebastião Salgado - Serra Pelada
Divulgação

Nascido em 1944 na cidade de AimorésMinas Gerais, Sebastião Salgado dedicou sua carreira a capturar injustiças sociais e ambientais pelo mundo. Ele documentou eventos significativos como a Revolução dos Cravos em Portugal e se tornou um defensor proeminente da preservação ambiental através de suas fotografias da Amazônia.

Seu trabalho também inclui o impacto do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), que foi registrado em seu livro Terra, publicado pela Companhia das Letras. Para Luiz Schwarcz, publisher da editora, a perda de Sebastião Salgado é inestimável. “Era um perfeccionista e se preocupava profundamente com aspectos gráficos e visuais”, afirmou.

Nota da CNI destaca contribuição para o mundo do trabalho

Confederação Nacional da Indústria (CNI) também lamentou a morte do fotógrafo em nota oficial, ressaltando sua importância na valorização da dignidade humana por meio da imagem. A entidade destacou como um de seus últimos grandes projetos no Brasil a exposição Trabalhadores, realizada no SESI Lab, museu de arte, ciência e tecnologia em Brasília.

A mostra apresentou 150 fotografias produzidas entre 1986 e 1992, retratando o trabalho manual em países como BrasilItáliaIndonésiaÍndia e Kuwait. As imagens, segundo a CNI, propunham uma reflexão sobre as transformações nas dinâmicas laborais e a importância de preservar a memória de ofícios em extinção. A exposição ficou em cartaz entre agosto de 2023 e março de 2024, recebendo mais de 130 mil visitantes.

Academia de Belas Artes da França também se manifestou, descrevendo Sebastião Salgado como uma “grande testemunha da condição humana e do estado do planeta”.

Ao longo de sua carreira, Salgado registrou fomes devastadorasconflitos bélicos e crises humanitárias em países como RuandaGuatemala e BangladeshSeu olhar empático refletia uma conexão profunda com as realidades vividas pelas comunidades que fotografava.

Sebastião Salgado
Reprodução/Instagram

A estética elegante de suas obras não apenas celebrava as belezas naturais do planeta, mas também servia como um alerta sobre a urgência da proteção ambiental diante das mudanças climáticas iminentes.

Com uma série de prêmios prestigiosos em seu currículo — incluindo o Prêmio Príncipe das Astúrias e o Prêmio Internacional da Fundação Hasselblad — Sebastião Salgado foi tema do documentário indicado ao Oscar O Sal da Terra, dirigido por Wim Wenders. O filme abordou suas expedições a locais remotos que culminaram no livro Gênesis, lançado em 2013.

Consagrado no Brasil e no exterior pelo uso da fotografia para retratar a condição humana em diferentes continentes, Sebastião Salgado deixa um legado incontestável à arte, ao trabalho e ao povo brasileiro.

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