Governo do Líbano aprova plano de desarmamento do Hezbollah, apesar da oposição de ministros xiitas

Compartilhe

A decisão do governo libanês ocorre dois dias após o anúncio de que o Hezbollah será desarmado até o fim do ano, conforme um plano que será detalhado pelo Exército libanês até 31 de agosto. O projeto, elaborado sob pressão dos Estados Unidos e diante do temor de intensificação dos ataques israelenses, foi rejeitado na quarta-feira (6) pelo movimento xiita.

Na reunião de quinta-feira, o governo libanês aprovou o memorando proposto pelo emissário americano Tom Barrack, que inclui um cronograma de desarmamento, mas sem discutir prazos específicos, segundo o ministro da Informação, Paul Morcos. O emissário americano elogiou a decisão do Líbano, classificando-a como “histórica, corajosa e justa”.

O ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Noël Barrot, também parabenizou Beirute pela “decisão corajosa e histórica”, que, segundo ele, permitirá ao país “avançar rumo à plena soberania”.

Hezbollah pode se tornar “fora da lei”

O Executivo libanês tomou essas decisões apesar da oposição do Hezbollah, que exige a retirada das tropas israelenses do Líbano antes de qualquer discussão sobre o desmantelamento de seu arsenal. O partido xiita expressou seu descontentamento pedindo que os ministros representantes da comunidade xiita se retirassem da reunião.

O Hezbollah contou com o apoio de seus aliados. Ao todo, quatro ministros xiitas — dois do Hezbollah, um do movimento Amal e um independente — deixaram a reunião antes do fim da sessão em protesto contra a decisão do governo, segundo a emissora Al-Manar, ligada ao movimento.

Enfraquecido pela guerra com Israel, o Hezbollah acusou o governo de cometer um “grave pecado” e afirmou que ignorará a decisão. Na quinta-feira, o bloco parlamentar do movimento pediu ao governo que “corrija a situação em que se colocou, assim como o Líbano, ao aceitar exigências americanas que inevitavelmente servem aos interesses do inimigo sionista”.

O grupo considera que a decisão “mina a soberania do Líbano” e “dá carta branca a Israel para atacar a segurança, a geografia, a política e a existência futura” do país.

Se essas medidas inéditas forem concretizadas, a ala armada do Hezbollah se tornará, de fato, fora da lei, após ter sido politicamente respaldada por todos os governos desde o fim da guerra civil, em 1990. O movimento é a única facção libanesa autorizada a manter armas após o fim da guerra civil (1975–1990).

Com essa postura, o Hezbollah tenta mostrar que as decisões do governo estão em desacordo com o Pacto Nacional, considerado o ato fundador do Líbano moderno. Esse pacto não escrito exige que decisões estratégicas importantes tenham o apoio das principais comunidades religiosas do país.

O Hezbollah também expressou seu descontentamento nas ruas. Em carros, motocicletas ou a pé, apoiadores do grupo xiita percorreram à noite as ruas do subúrbio sul de Beirute e de várias cidades do país.

Plano “não vai se concretizar”

O governo afirma que age dentro do acordo de cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos, que pôs fim, em 27 de novembro, a um ano de hostilidades entre o Hezbollah e Israel, paralelamente à guerra na Faixa de Gaza. O acordo prevê a retirada do Hezbollah da zona ao sul do rio Litani e o desmantelamento de suas infraestruturas militares, em troca do reforço do Exército libanês e das forças de paz da ONU.

Também está previsto o recuo das tropas israelenses do sul do Líbano. No entanto, Israel mantém forças em cinco posições fronteiriças que considera estratégicas.

Iraj Masjedi, vice-coordenador da Força Quds — braço de operações externas da Guarda Revolucionária do Irã que apoia o movimento libanês — declarou que o desarmamento do Hezbollah “não vai acontecer”.

O porta-voz da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Finul), Andrea Tenenti, anunciou na quinta-feira que suas tropas “descobriram uma rede extensa de túneis fortificados perto de Naqoura”, no sul do Líbano, “com vários esconderijos, peças de artilharia, lançadores múltiplos de foguetes, centenas de projéteis e mísseis, minas antitanque e outros explosivos”.

Apesar do cessar-fogo, Israel continua bombardeando o Líbano, alegando que os ataques têm como alvo o Hezbollah. Na quinta-feira, ataques israelenses mataram pelo menos cinco pessoas e feriram outras dez no leste do Líbano, segundo o Ministério da Saúde.


Compartilhe