Flamenguista e bicampeão
O personagem de hoje foi e ainda é, entre os que conheci, o melhor replicador do Método Interativo de Segurança Cidadã, o MISC®.
Na década de 1990, no início de sua busca pela comunitarização da ordem pública, ele mostrava-se bastante interessado, mas era bombardeado por colegas seus que diziam que a “tal” Polícia Interativa só se aplicaria em pequenas cidades da hinterlândia.
Sem receber qualquer gratificação ou ajuda financeira, ele partiu para Guaçuí, desejoso que estava de conhecer a alquimia da interatividade social na cidade onde tudo tinha começado.
Tudo era muito artesanal. As instalações da Companhia da PMES eram simples, a mobília ainda da década de 1960, existia apenas uma linha telefônica e as duas viaturas tinham mais de seis anos de uso. Por fim, só existia um computador “XT”, doado por um amigo da Polícia Militar, proprietário da empresa de informática Banco de Ideias.
Para desqualificar ainda mais, o cenário institucional era de prostração diante de meses de salários atrasados e desestímulo escalar em que se encontrava a Corporação àquele tempo.
Então, o que o nosso visitante veria senão tristes cenas de uma Polícia Militar em farrapos? Mas em Guaçuí havia esperança, união e ousadia, além de cooperação da municipalidade e um novo processo de interatividade social.
Não havia tempo para lamentar! Os problemas eram históricos e recorrentes, mas acabariam por serem resolvidos pelas autoridades competentes.
O colega que viera da Capital sentia a empolgação e assistia, naquela quadra histórica, o nascimento de uma nova era na segurança pública brasileira: a participação da sociedade civil.
Empenhado em saber de tudo, em se atualizar, ele foi matriculado como aluno do curso de Polícia Interativa, realizado, à época, no 3º BPM em Alegre. Esse curso era uma estratégia de doutrinação afirmativa. Os conceitos próprios eram ainda primários. Nazareth Cerqueira e Jorge da Silva eram os nomes referenciais da bibliografia.
O visitante não poderia imaginar a rica trajetória que estava se iniciando para o Brasil, através de seu inovador aprendizado, depois expandido para várias Polícias Militares. Ele acrescentara à sua condição de apaixonado torcedor flamenguista, outro amor à sua vida, o de arauto da Polícia Interativa no Brasil e no Exterior.
Assim, com inigualável capacidade de fazer e grande reserva de inteligência emocional, a cada dia ele alcançava novos prosélitos entre os seus pares, subordinados hierárquicos e lideranças das comunidades, incentivando-os com entusiasmo e respeito.
Ele não reclamava dos infortúnios, mas acelerava seu objetivo de forma a disruptar os velhos e inadequados métodos operacionais de então, quando alguns diziam ironicamente: “Paisano não entende de segurança pública”.
As evidências eram claras e mostravam o largo espectro de aplicação do MISC®. Assim, o primeiro laboratório da Polícia Interativa em Vitória (ES) seria a Região de São Pedro.
Não demorou muito e o exitoso oficial ganhou projeção na grande mídia, virando notícia positiva para a PMES. Seu modo de tratar as comunidades era um grande diferencial, criando expectativas sempre respondidas.
Após o sucesso em São Pedro, em Vitória (ES), era a vez da Região da Grande Santo Antônio provar a metodologia interativa.
Foram tão relevantes o trabalho de interatividade social e os seus resultados na redução da criminalidade que o povo quis homenagear nosso ex-aluno com um busto de bronze na Praça da Bandeira no Bairro de Santo Antônio. Daí a tornar-se, em 2002, o primeiro campeão brasileiro de comunitarizacão da segurança pública foi uma questão de tempo.
O bicampeonato, em 2009, foi conquistado em Brasília (DF), durante a primeira Conferência Nacional de Segurança Pública, onde foi merecidamente aplaudido.
Acabou, por sua competência, sendo elevado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) a coordenador nacional de Polícia Comunitária e nunca mais parou, percorrendo, ainda hoje, o Brasil como um policial interativo. É um homem de realizações e grandes feitos em favor da segurança cidadã.
Teve também relevante papel no incremento do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD), da Rede de Promoção de Ambientes Seguros (REPAS) e dos Territórios de Paz, esse, o embrião do Programa Estado Presente. Enfim, ele vem de um dos clãs da PMES, cuja a matriarca Dona Penha é alegremente o ponto de encontro de toda a bendita e unida família.
Esse é o entusiasmado coronel da PMES Jailson Miranda, exemplo de um verdadeiro empreendedor social que jamais desistiu de seus sonhos.
Vitória – ES, 03 de abril de 2023.