Erika Hilton e Contarato pedem prisão de pastor que sugeriu matar LGBTQIA+
Em uma pregação em português na Igreja Lagoinha de Orlando, nos Estados Unidos, o pastor afirmou que se Deus pudesse “matava tudo e começava de novo”
A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) e o senador capixaba Fabiano Contarato (PT-ES) protocolaram pedidos de prisão contra o pastor André Valadão por ele ter sugerido “que fiéis matassem pessoas LGBTs, durante seu culto”.
Hilton enviou duas representações ao Ministério Público de Minas Gerais. Já Contarato entrou com uma representação criminal no Ministério Público Federal.
Entenda motivo de representações contra pastor
Em uma pregação em português na Igreja Lagoinha de Orlando, nos Estados Unidos, Valadão afirmou que se Deus pudesse, “matava tudo e começava de novo”, então incitou os fiéis: “vamos para cima”.
Para o pastor, em uma pregação intitulada “teoria da conspiração”, o casamento homoafetivo teria supostamente “aberto as portas” para paradas com “homens e mulheres nu com seus órgãos genitais expostos diante de crianças”. “Essa porta foi aberta quando nós tratamos como normal o que a Bíblia já condena”, acusa o pastor, em ataque à comunidade LGBT+.
Segundo ele, agora seria “a hora de tomar as cordas de volta e dizer: Pode parar, resetar! Mas Deus fala que não pode mais. Ele diz, ‘já meti esse arco-íris aí. Se eu pudesse, matava tudo e começava de novo. Mas já prometi pra mim mesmo que não posso, então agora tá com vocês'”, afirma o pastor, fazendo referência à história bíblica do dilúvio, quando o Deus hebraico teria inundado toda a Terra e salvado apenas uma família de fiéis. O arco-íris, nessa mitologia cristã, significa um juramento de que Deus jamais voltaria a destruir tudo dessa forma.
Nesse sentido, o pastor repete: “você não pegou o que eu disse, tá com você. Vou falar de novo, tá com você. Sacode uns quatro do teu lado e fala: ‘vamos para cima'”.
Em nota, a deputada Erika Hilton, que é presidente da Frente Parlamentar Mista por Cidadania e dos Direitos LGBTI+, afirmou que “o pastor reiteradamente prega violência e intolerância contra pessoas já bastante vulnerabilizadas, mas dessa vez, André Valadão dobrou a aposta e, de maneira direta, disse falou em ‘recomeçar do zero’, incentivando evangélicos a matarem pessoas da comunidade LGBT”.
A deputada reiterou, ainda, que “não se trata de liberdade de expressão, e sim de repetidos crimes, agora com evidentes tons de crueldade.”
O senador Fabiano Contarato pediu, além da prisão preventiva de Valadão, uma reparação no valor de R$ 1 milhão.
“Nosso mandato foi ao MPF e pediu a prisão preventiva de André Valadão e a reparação no valor mínimo de R$ 1 milhão, por danos morais coletivos, pelo discurso de ódio e pela conduta que não se restringiu a uma pessoa determinada, mas a todo o grupo de pessoas LGBTQIA+”, explicou em uma rede social.
O Estadão revelou recentemente que o pastor já sofreu outra representação no MP por transfobia e começou uma campanha dizendo que “Deus odeia o orgulho”, em referência ao mês do Orgulho LGBT+, celebrado em junho. “Ah, esse mês é o mês da humilhação”, diz o pastor em vídeo vinculado ao post.
Durante a campanha eleitoral de 2022, Valadão também fez ataques contra o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva e simulou ter sido obrigado pelo TSE a se retratar. O tribunal negou existir qualquer sentença nesse sentido.
O que diz o pastor André Valadão?
A Igreja Lagoinha de Orlando e a Igreja Batista da Lagoinha de Belo Horizonte, em Minas Gerais, foram procuradas, mas não se manifestaram até a publicação desta matéria.
O pastor André Valadão, no entanto, fez uma postagem em suas redes sociais afirmando que sua pregação “nunca será sobre matar pessoas”. Segundo ele, isso são “narrativas que tentam colocar na mídia”.
Em sua justificativa, ele diz que usa o termo usado na história do dilúvio, quando, em suas palavras, “Deus destrói todo o mundo por causa da promiscuidade, por causa da libertinagem”. Repete ainda que “Deus não tem como resetar, não vai matar, não vai recomeçar a humanidade”, então caberia aos fiéis, “nós resetarmos”. “Mas não digo em nós matarmos, nós aniquilarmos pessoas, digo que cabe a nós levar o homem, o ser humano ao princípio daquela que é a vontade de Deus”, afirma, indicando que a população LGBT+ estaria fora dessa “vontade”.
Ele ainda ataca a legislação, falando sobre “leis do anticristo” e deslegitimando a “democracia de direita ou esquerda”. Alega, então, que “os princípios de um cristão genuíno não estão firmados em leis ou governanças humanas, estão firmados em sua fé”.