Duas crianças são assassinadas por semana no Espírito Santo
Grande parte dessas mortes está relacionada à violência doméstica e ao tráfico de drogas. O Unicef detalha o perfil dos menores que morrem nessas circunstâncias
Duas crianças e adolescentes são assassinados por semana no Espírito Santo. Grande parte dessas ocorrências está relacionada à violência doméstica e ao tráfico de drogas. Os dados são da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) e refletem o assustador cenário de 2022: durante o ano, foram 79 mortes.
A maior parte dos registros se concentra na Grande Vitória. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) aponta que o perfil das vítimas é o mesmo em todo o país.
“Quem é essa criança e esse adolescente morto nesse contexto? Majoritariamente é o menino negro, entre 15 e 19 anos. Porém, a gente percebe que, dentre as faixas etárias, o que tem mais crescido é a primeira infância”, afirmou o oficial de Proteção à Criança da Unicef, Marcos Kalil.
Os dois cenários em que esses menores morrem são principalmente em decorrência da violência dentro de casa, como espancamentos e estupros, ou fora dela, quando o tráfico de drogas se apresenta como um salvação, mesmo que momentânea.
“As mortes de crianças na primeira infância acontecem no ambiente doméstico por um autor conhecido e próximo. Depois, essa criança cresce, vai para a rua e passa a sofrer essa violência em outros contextos”, destacou.
Ainda no espectro das vítimas com menos de 18 anos, o deputado Danilo Bahiense (PL), que é presidente da Comissão de Proteção à Criança e ao Adolescente, lembra os tristes números dos últimos anos.
“Nos anos de 2020 e 2021, pegando um pedacinho de 2022, somente na Grande Vitória, nós tivemos mais de 3.500 ocorrências de violência contra crianças e adolescentes. Nós tivemos também uma situação lamentável em 2021 de mais de mil estupros de vulneráveis, é um volume altíssimo.”
Políticas públicas estão em falta para um público que não pode se defender sozinho e não tem voz e nem força para mudar o atual cenário sangrento.
“Nós temos trabalhado intensamente em cima dos conselhor tutelares, os conselhos tutelares estão sucateados aqui no estado do Espírito Santo. Relataram aqui que não havia papel para trabalhar, não havia caneta, não havia telefone. Em muitos dos casos havia o telefone, mas ele nem fazia ligação e nem recebia porque ele estava desligado. Não havia computadores”, alertou o deputado.
Diante destas estatísticas, faz-se necessário reforçar a importância da atenção na criação e no desenvolvimento de crianças e adolescentes. Caso contrário é capaz que esse adolescente encontra a atenção necessária fora de casa, ocasionando uma fatalidade.
“Eu falo sempre dos pais. Quando você não assume a paternidade do seu filho, quando você não para e não ouve seu filho, alguém está ouvindo lá fora”, afirmou Bahiense.
“Talvez isso esteja ligado à questão comportamental, sobre como esses ambientes domésticos podem permitir que a violência esteja dentro de casa, na vizinhança ou em outros parentes”, alertou o oficial de Proteção à Criança da Unicef, Marcos Kalil.