De candidato a condenado: os detalhes incômodos da trajetória de Jair Bolsonaro
Fatos e imagens que detalham de 2018 em diante a trajetória que culminou com a condenação de Jair Bolsonaro
Por Edison Veiga, Thiago Domenici | Colaboração: Raphaela Ribeiro, Bruno Fonseca, Guilherme Silva | Ilustração: Matheus Pigozzi
Jair Messias Bolsonaro foi condenado por todos os crimes da trama golpista nesta quinta-feira, 11 de setembro de 2025, segundo decisão da maioria dos ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). O voto que formou a maioria foi de Cármen Lúcia, a única mulher da turma composta por cinco membros. O placar pela condenação de Bolsonaro e de todos os 7 réus da trama golpista, chamado de núcleo 1 ou crucial, está em 3 x 1.
No início do seu voto, Cármen fez declarações como: “Nessa ação penal pulsa o Brasil que me dói”; “O 8 de janeiro não foi um acontecimento banal”; “Somente com democracia o país vale a pena”; “Arou-se um terreno social e político para semear o grão maligno da antidemocracia.” Além dela, que afirmou existir “prova cabal” de que Bolsonaro liderou a trama golpista, já haviam votado pela condenação de Bolsonaro por todos os crimes imputados os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino, que durante o voto da ministra fizeram apartes com exibição de vídeos dos atos golpistas e invasão à sede dos Três Poderes.
Ontem, Luiz Fux foi o voto mais longo — mais de onze horas — e, até o momento, o único divergente entre os demais, absolvendo o ex-presidente de todos os crimes. A definição da pena (a dosimetria) ainda será definida após o voto total de Cármem Lúcia e o voto final de Cristiano Zanin, presidente da turma. As condenações e absolvições também abarcam os demais réus do núcleo 1 da trama golpista, chamado de crucial.
Mas para entender como chegamos até aqui, é preciso voltar no tempo. Em 2021, a condenação que agora se confirma foi refutada pelo ex-presidente Bolsonaro com uma certeza quase inabalável durante um evento em Goiânia com lideranças evangélicas. À época, Bolsonaro ergueu a voz para anunciar visões de seu futuro: “Estar preso, estar morto, ou a vitória”. Com uma convicção quase palpável, Bolsonaro descartou a primeira opção. “Pode ter certeza de que a primeira alternativa não existe.” E então, como um ato de desafio ao destino, declarou: “Deus me colocou aqui, e somente Deus me tira daqui.”
Agora, esse mesmo destino ignorou as certezas retóricas do ex-capitão do exército e sua profecia se materializa de maneira irônica, com a condenação se afirmando como mais um capítulo fundamental da história brasileira recente.
Em 2014, ele foi o mais votado no Rio de Janeiro na disputa pela Câmara Federal, com mais de 460 mil votos. Em seus mandatos parlamentares, era tratado como um personagem do baixo clero, sem grande expressão — e baseou sua atividade parlamentar na defesa dos direitos dos militares ativos, inativos e pensionistas.

Ao longo de sua carreira política, defendeu a redução da maioridade penal, o direito à legítima defesa e a posse de arma de fogo para cidadãos sem antecedentes criminais. Também atuou em favor de medidas para garantir a segurança jurídica das ações policiais. Árduo defensor da ditadura militar (1964-1985), exaltou ao longo da carreira torturadores como Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel que chefiou o DOI-Codi de São Paulo durante o período de exceção.
Ao votar a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, no plenário da Câmara em 2016, Bolsonaro disse que votava pela memória do coronel, que afirmou ser “o terror de Dilma”. A fala teve enorme repercussão negativa. O deputado foi denunciado ao Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade.
Além disso, Bolsonaro idealizou propostas para tornar obrigatório o voto impresso no Brasil, uma falsa medida que, segundo ele, tornaria a realização de eleições mais confiáveis e passíveis de auditagem. Ao destacar a sua defesa conservadora de valores cristãos e da família, fez diversas declarações misóginas, preconceituosas e homofóbicas.
Nascido em Campinas (SP), em 21 de março de 1955, Jair Bolsonaro é descendente de imigrantes italianos, que chegaram ao Brasil depois da Segunda Guerra Mundial. Filho de Percy Geraldo Bolsonaro e de Olinda Bonturi Bolsonaro, Jair é atualmente casado com Michelle. Ele é pai de cinco filhos. Flávio, Carlos e Eduardo, que foram, respectivamente, eleitos como senador pelo estado do Rio de Janeiro, vereador do município do Rio de Janeiro e deputado federal pelo estado de São Paulo. É pai também de Renan e Laura.
Por fim, ao perder a reeleição em 2022, tramou um golpe de estado envolvendo civis e militares da ativa e da reserva, culminando no fatídico ataque golpista do 8 de janeiro, quando uma série de vandalismos, invasões e depredações do patrimônio público em Brasília foram cometidos por uma multidão de bolsonaristas extremistas.
