Cresce no Brasil o número de mulheres que vivem a maternidade solo
De acordo com um levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Datafolha, aproximadamente 70% das mulheres brasileiras são mães, sendo que uma significativa parcela delas, cerca de 55%, são mães solo. Este dado revela um panorama preocupante e, ao mesmo tempo, um novo entendimento sobre a maternidade no país. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) também corrobora essa tendência, apontando um aumento de 17,8% no número de lares chefiados por mães solo entre 2012 e 2022, passando de 9,6 milhões para 11,3 milhões.
A pesquisa da FGV destaca que a maioria dessas mulheres (72,4%) reside em domicílios monoparentais, sem o suporte de parentes ou agregados que poderiam compartilhar as responsabilidades familiares. Essa nova configuração familiar levou especialistas a abandonarem o termo “mãe solteira”, optando por “mãe solo” para refletir melhor a realidade enfrentada por essas mulheres que lidam com os desafios da maternidade sozinhas.
Fatores sociais e educacionais influenciam a nova dinâmica
Paula Marin, especialista em reprodução humana assistida e sócia da Clínica Mater Prime em São Paulo, discute a relevância desse fenômeno social. Ela observa que as mudanças no cenário econômico e educacional têm contribuído para o adiamento do casamento e da maternidade entre as mulheres brasileiras. “A inserção feminina no mercado de trabalho e o aumento dos anos de estudo são fatores determinantes para essa nova dinâmica”, explica.
Além disso, Marin enfatiza a necessidade de um maior conhecimento sobre planejamento reprodutivo. “Historicamente, as mulheres foram ensinadas a evitar a gravidez sem serem devidamente informadas sobre as implicações dessa decisão na sua fertilidade futura. O planejamento reprodutivo deve incluir não apenas métodos contraceptivos, mas também informações sobre a reserva ovariana e as oportunidades de preservação da fertilidade”, ressalta.
Com o avanço da idade, especialmente após os 35 anos, as chances de concepção diminuem consideravelmente. Portanto, é crucial que as mulheres tenham acesso a informações sobre sua saúde reprodutiva desde o início da vida fértil. Infelizmente, muitas ainda se perguntam se perderam suas oportunidades de ser mãe ao buscarem auxílio médico quando já enfrentam dificuldades para engravidar.
Tecnologia e medicina ampliam caminhos para a maternidade independente
A ideia de maternidade solo ou produção independente surge frequentemente nesse contexto. Quando a fertilidade começa a declinar e o parceiro ideal ainda não apareceu, muitas mulheres recorrem à medicina reprodutiva em busca de alternativas para realizar seu sonho de ser mãe. Entre essas opções estão os tratamentos como inseminação intrauterina (IIU) e fertilização in vitro (FIV), além do uso de óvulos doados ou até mesmo úteros de substituição.
Os bancos de sêmen têm sido uma solução comum para aquelas que desejam ser mães sem um parceiro. As mulheres podem escolher doadores com base em características físicas, genéticas e até mesmo aspectos pessoais como hobbies e profissão. Marin explica que é essencial realizar uma triagem genética para assegurar que não haja condições hereditárias que possam afetar o bebê.
Para aquelas que precisam de doação de óvulos devido à idade ou problemas de fertilidade, existem opções como doadoras anônimas ou bancos especializados. “Encontrar uma doadora saudável pode aumentar significativamente as taxas de sucesso nas tentativas de gravidez”, aponta a especialista.
Em casos onde a mulher não pode engravidar por questões médicas, o útero de substituição se apresenta como uma alternativa viável. Neste caso, a candidata deve passar por uma avaliação médica rigorosa antes de ser aprovada como gestante substituta.
Assim, Paula Marin conclui que é fundamental proporcionar às mulheres o conhecimento necessário sobre suas opções reprodutivas e ajudar na construção de uma maternidade mais consciente e planejada no Brasil.