Acusado de assédio, homem morre após ser espancado e atropelado várias vezes por motos
Cleber Baptista foi agredido por moradores e traficantes em Cariacica; mulher afirma que agressão pode estar ligada a dívida com o tráfico
Acusado de assédio por moradores, Cleber Baptista, de 47 anos, morreu nesta terça-feira (08) no Hospital São Lucas, em Vitória, após não resistir aos ferimentos causados por uma violenta agressão ocorrida no último domingo (06), no bairro Vila Independência, em Cariacica.
Segundo a Polícia Civil, ele foi espancado por moradores após ser acusado de mostrar as partes íntimas para crianças. Traficantes da região também participaram da agressão, atropelando a vítima com motos.
A família, no entanto, contesta a versão e afirma que Cleber foi vítima de uma execução sem provas.
Investigação da morte
A esposa da vítima, que fez o reconhecimento do corpo no hospital, afirmou que Cleber Baptista foi brutalmente agredido e chegou ao Hospital São Lucas em estado considerado “deplorável” pelos médicos.
Vieram três médicos conversar comigo e uma assistente social. Disseram que ele teve múltiplas fraturas e que fizeram tudo o que podiam, mas ele não resistiu.
Cleber era pai de uma menina autista de 12 anos e, segundo a esposa, cuidava da filha enquanto ela trabalhava. A mulher declarou que o marido era dependente químico, mas nunca foi acusado de qualquer tipo de assédio.
Ele era um homem trabalhador, acompanhava nossa filha nas consultas e pegava as medicações dela. Minha filha está estarrecida. Quando viu a matéria, disse: ‘Mãe, bateram no meu papai. Meu papai tentou se salvar, mas ninguém ajudou’, relatou.
A agressão aconteceu no domingo de manhã. Cleber tentou se esconder em uma mercearia, mas foi retirado do local a pauladas. Testemunhas afirmam que ele foi atropelado várias vezes por traficantes em motos.
Contradições e apelos por justiça
A família acredita que a motivação do crime não foi a suposta tentativa de assédio, mas sim uma dívida de drogas. No sábado, a esposa encontrou a moto de Cleber depenada perto da Ceasa, em Cariacica — o que reforça a hipótese levantada pelos familiares.
Antes de ser atacado por traficantes, Cleber também teria sido espancado por moradores revoltados com o suposto caso de assédio, que não foi confirmado pelas autoridades.
O delegado Carlos Vitor de Almeida, responsável pelo caso, alertou que “a justiça é exclusiva do Estado e só ela deve ser exercida”. Ele destacou ainda que, em situações suspeitas, o correto é acionar a Polícia Civil pelo 190 e entregar qualquer gravação que possa subsidiar o inquérito.
A esposa de Cleber pede justiça e reforça que não há provas contra o marido. “Eles não têm prova e nem vão ter, porque a índole do meu marido não é essa. Foi uma acusação sem fundamento, uma brutalidade tremenda. A polícia vai esclarecer o que realmente aconteceu”, afirmou.
A Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Cariacica segue investigando o caso. Até o momento, nenhum suspeito foi preso.