Reino Unido amplia programa de expulsão de estrangeiros de 23 países em meio à crescente tensão
Os expulsos têm o direito de recorrer após retornarem ao seu país de origem. Antes limitado a oito países, o programa agora passa a incluir 23 nacionalidades.
“Por muito tempo, criminosos estrangeiros exploraram nosso sistema de imigração, permanecendo no Reino Unido por meses, até anos, enquanto seus recursos se arrastavam. Isso precisa acabar”, declarou a ministra do Interior, Yvette Cooper, citada no comunicado divulgado no domingo.
Segundo o governo britânico, a ocupação de uma vaga na prisão custa, em média, 54 mil libras por ano (mais de R$ 375 mil).
O primeiro-ministro Keir Starmer tornou a redução da imigração, tanto legal quanto ilegal, uma prioridade de sua gestão, em um contexto de ascensão da extrema direita.
Desde julho de 2024, quando os trabalhistas chegaram ao poder, cerca de 5.200 estrangeiros condenados foram expulsos, um aumento de 14% em relação ao ano anterior, segundo o Home Office, órgão responsável pela imigração no Reino Unido.
Na prática, a decisão sobre se essas pessoas cumprirão suas penas no exterior dependerá do país para o qual forem enviadas, informou o ministério da Justiça à BBC. Isso significa que alguns podem ser libertados ao chegar ao país de destino.
Até agora, o programa incluía oito países, entre eles Tanzânia, Estônia e Belize, e agora será estendido para mais 15: Angola, Austrália, Botsuana, Brunei, Bulgária, Canadá, Guiana, Índia, Indonésia, Quênia, Letônia, Líbano, Malásia, Uganda e Zâmbia.
Epicentro de violência
O Reino Unido tem sido afetado, há várias semanas, por manifestações contra migrantes. A situação atingiu um ponto de ebulição em Epping, uma cidade de 11 mil habitantes a 25 km ao nordeste de Londres, que se tornou o epicentro da crise do sistema de imigração no país.
O estopim para a onda de protestos foi um incidente ocorrido em Epping, quando um solicitante de asilo etíope, de 38 anos, foi acusado no mês passado de tentar beijar uma adolescente de 14 anos. Horas após a acusação, ativistas cercaram o hotel onde o homem estava hospedado, exigindo o fim da acomodação de migrantes. Desde então, as manifestações se multiplicaram, e outros hotéis passaram a ser alvo.
Extrema direita capitaliza com a tensão
Desde o início do movimento, pelo menos 18 pessoas foram detidas e oito policiais ficaram feridos. A causa foi explorada pela extrema direita britânica, cujos ativistas se confrontam com grupos antirracistas. As autoridades manifestam preocupação com a possibilidade de um surto de violência comparável aos distúrbios do verão de 2024, com um contingente de 3 mil policiais de choque preparados para responder a novos conflitos.
Parte da população de Epping está exasperada com a presença de solicitantes de asilo em hotéis da cidade. A acomodação desses solicitantes em hotéis é um dispositivo que tem um custo diário para o Estado de mais de R$ 63 milhões.
Holly Whitbread, conselheira regional conservadora de Epping, compreende a frustração local, afirmando que muitos moradores “não se sentem seguros, não se sentem protegidos” e que é “irresponsável” por parte do governo ignorá-los. Em nível local, vários conselhos municipais passaram a pedir o encerramento desses alojamentos. O ministério do Interior britânico está trabalhando na realocação de alguns solicitantes de asilo.
