Capixaba doa medula e pode salvar vida de paciente nos Estados Unidos

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Raphael Souza doou medula óssea no ES para salvar um paciente nos EUA. Saiba como funciona o processo de doação e como se cadastrar no Redome

O autônomo Raphael Athayde de Souza, de 37 anos, realizou um ato de solidariedade que reverberou em outro país. Ele doou medula óssea para um paciente que espera transplante nos Estados Unidos.

Todo o procedimento ocorreu no Hospital Santa Rita, em Vitória, na última segunda-feira (20). A doação foi acompanhada pela equipe do Serviço de Onco-Hematologia e Transplante de Células Tronco Hematopoéticas do hospital.

Raphael, que é flamenguista fanático e integra o grupo “Fla Medula”, fez justamente o que os rubro-negros altruístas pregam: a doação. Morador da Capital, ele realizou o cadastro para se tornar doador já há alguns anos e relatou que ser chamado para esse missão foi uma surpresa.

“Receber a ligação foi uma surpresa imensa”, contou emocionado.

Sem hesitar, ele compareceu ao Hospital Santa Rita, consciente de que seu gesto poderia ser a única chance de um desconhecido continuar vivendo.

Segundo ele, a expectativa é que o paciente possa se curar e tenha motivos de sobra para comemorar a nova etapa da vida com a doação.

“Eu acredito que quem vai receber essa medula também terá motivos de sobra para celebrar”, afirmou.

Como foi o processo de doação

Para quem não conhece o processo de doação, o procedimento pode parecer um tanto complicado, mas a verdade é que todo o procedimento ocorre por etapas.

A primeira parte aconteceu no dia 20 de janeiro, quando Rafael deu entrada no hospital para realizar a coleta. O procedimento teve início às 12h e foi encerrado por volta de 14h. Logo depois, o doador precisou ser internado.

Mas isso não quer dizer que houve qualquer risco no procedimento. A internação foi realizada para monitorar o quadro de Raphael, uma vez que um cateter precisou ser inserido na virilha dele para fazer a coleta. O doador teve alta no dia seguinte e já pôde retornar para casa.

A medula óssea foi transportada no mesmo dia da coleta, Um courier veio dos Estados Unidos para acompanhar todo esse processo, que foi feito em ação conjunta com o Redome.

A medula foi colocada num isopor preparado para recebê-la em perfeitas condições e seguiu de avião para o exterior. Foi preparada toda uma documentação para que o material pudesse chegar ao seu destino final.

Quem pode receber a medula

Atualmente, o Hospital Santa Rita é o único no Espírito Santo habilitado pelo Ministério da Saúde para realizar todos os tipos de transplantes de medula óssea via Sistema Único de Saúde (SUS).

Para receber a doação, o paciente deve ter leucemia aguda, linfomas, anemia aplástica ou mieloma múltiplo. De acordo com o coordenador do Serviço de Onco-Hematologia e Transplante de Células Tronco Hematopoéticas, Marcelo Aduan, o paciente é colocado na lista de espera pelo próprio médico.

O coordenador explicou que existem três tipos de transplantes de medula óssea: o autólogo, realizado com as células do próprio paciente; o alogênico aparentado, feito com células de um parente compatível; e o alogênico não aparentado, quando a medula é proveniente de um doador desconhecido.

Este terceiro tipo depende da compatibilidade testada por exame específico (HLA). Todas as três modalidades, segundo ele, têm suas especificidades.

Transplante Autólogo – O Transplante Autólogo é quando o doador é a própria pessoa que irá receber a medula. “Utilizamos de forma curativa ou como alternativa de controle para doenças malignas como o câncer. É aplicado, principalmente, para os casos de Mieloma Múltiplo, Linfoma de Hodgkin, Linfoma Não Hodgkin, Neoplasia de Células Germinativas (tumor de testículos)”, pontuou Aduan.

Transplante Alogênico Aparentado – O Transplante Alogênico Aparentado é aquele em que o doador pode ser um parente, como o irmão, por exemplo. A principal indicação deste tipo de transplante é para os casos de Leucemias Agudas (Mielóides e também Linfóides). É uma modalidade de tratamento curativa.

“A taxa de cura varia com as características da Leucemia e também com as condições do paciente e se a doença encontra-se controlada no momento da internação para o transplante”, explica o médico.

A compatibilidade é definida pelo exame de Antígeno Leucocitário de Histocompatibilidade (HLA), que rege a possibilidade do transplante e a escolha do melhor doador.

O especialista ressalta ainda que, atualmente, existe a possibilidade de transplante em que o doador não precisa ter compatibilidade completa com o receptor, desde que sejam feitos os devidos ajustes.

“Entretanto, esse transplante parcialmente compatível (Haploidêntico) só deve ser indicado na falta de doador totalmente compatível, seja na família, seja no Banco de Medula Óssea (Redome).”

Transplante Alogênico Não Aparentado – O Transplante Alogênico Não Aparentado é aquele em que o doador utilizado está no Banco de Medula Óssea (Redome – Registro Brasileiro de Transplante de Medula Óssea).

“Quando o doador não é encontrado no Registro Brasileiro, o Redome pode, inclusive, realizar busca internacional por esse doador”, detalhou.

Como se tornar um doador

Quem pretende se tornar um doador deve se cadastrar no Centro de Hematologia e Hemoterapia do Estado (Hemoes). O interessado pode ser doador de sangue, medula ou ambos, mas a decisão deve estar clara no momento do cadastro.

Para se candidatar é preciso ter entre 18 e 35 anos e 6 meses. Além disso, não pode não apresentar doenças infecciosas, hematológicas, oncológicas ou autoimunes.

É necessário apresentar documento oficial de identidade com foto e fornecer dados pessoais para o preenchimento do cadastro no Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome).

O voluntário à doação assinará um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e receberá uma cópia, constando seu nome e o número do registro no Redome. Será coletada uma amostra de 5ml de sangue para realização de teste de compatibilidade genética.

“É importante que o doador mantenha sempre seus dados cadastrais atualizados no site do Redome (nome, endereço, telefone, e-mail), para que, ao ser convocado como possível doador compatível, possa ser localizado facilmente”, esclarece o médico.

O procedimento

De acordo com Aduan, há duas formas básicas para coleta da medula óssea de um doador compatível e a escolha sobre o método mais adequado de coleta não é uma decisão do doador ou do paciente, mas, sim, uma indicação médica, de acordo com o tipo de doença ou diagnóstico do paciente:

Aférese: procedimento de coleta por via periférica, que se assemelha a uma doação de sangue. Não requer internação, nem anestesia;

Punção no osso da bacia, por meio de agulhas especiais, sob efeito de anestesia. Os doadores passam por um pequeno procedimento cirúrgico, de aproximadamente 90 minutos.


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